Nomes...
Sabe, há pessoas que se perguntam a importância deles. Nomes dão, desculpe-me pela definição, nomes às coisas. Fornecem a essência do estado de existir, bem como são o princípio da caracterização de cada objeto, ser, sentimento... de tudo. Nomes também definem as muitas pessoas que você finge ser ou realmente é.
Sim... isso provavelmente ficou confuso mas, veja bem, minha vida nunca foi uma reta sem desvios, quedas e ascensões. Muito pelo contrário, está mais para uma daquelas figuras complexas que os matemáticos de Omnüs encontram nos fenômenos da natureza. E, como vamos falar da minha vida, não me importo se você ficou confuso ao ler este diário... leia de novo e de novo. Se não entender, vá ler a história dos heróis ou sobre a formação de cada reino da fronteira.
Já que ficou aqui... voltemos ao assunto: os nomes...
Nunca fui conhecido por apenas uma maneira ou alcunha. Fui chamado de diversas formas e, portanto, fui diferentes pessoas. Nasci na maldita terra onde a cor do cabelo parece ser mais importante do que o tamanho das orelhas, Galenbar... mas você já deve saber isso, se leu as outras entradas deste livro. Sou um elfo de cabelos negros, mas não fui criado como tal. Levei à morte aquela que me deu sua vida... irônico isso, não ? Bem, não importa.
Saí da terra dos elfos, ainda jovem... mal me lembro do dia. Mentira... provavelmente lembro, mas vou-lhes poupar de tal chatice. Saiba apenas que meu irmão de criação me enviou em uma comitiva de comerciantes para as terras que viriam a ser conhecidas como o Reino de Ferro e Carvão, Omnüs. A caravana foi e voltou, mas, a pedido de meu irmão, eu fiquei com um mentor...Farallen.
Naquela época, eu era Mithae. Nunca entendi porque ele me chamava assim, mas dizia significar que eu era sábio e de bom coração, mas tinha muito a aprender. Me ensinou a matemática, alquimia, biologia e mecânica... mas, principalmente, a dar nome às coisas. Se você nunca esteve em Omnüs, ou nunca presenciou os arcanos de lá, deve me achar um idiota. Afinal, dar nomes não é uma coisa, no mínimo, banal?
Naquela época, alguns estudiosos haviam descoberto um idioma ancestral, tão velho quanto os próprios elfos ou os deuses. Poucos o conheciam e ainda menor era o número dos que o dominavam. Farallen era um destes... De acordo com ele, tal língua representava o verdadeiro nome de cada coisa conhecida e desconhecida em Eä. Entenda bem que há diferença entre chamar um ser por algum nome inventado e chamá-la pelo seu nome real. Para facilitar, podemos dizer que o nome inventado seria apenas um pergaminho com uma inscrição. Você sabe o que aquilo significa, mas não consegue obter mais nenhuma informação do objeto. Já, o nome real trata-se da verdadeira estrutura química e física do objeto... e, portanto, conhecendo-o, você sabe tudo o necessário sobre o ser ao qual ele se refere. A medida que passa a conhecer mais e mais a coisa, você torna-se capaz de manipulá-la e de alterá-la da forma como desejar.
Você, sábio mago ou feiticeiro, pode talvez argumentar que isso quebraria os limites naturais da magia. Manipular a matéria livremente é possível até certo ponto... mas existe um limite natural que nunca é quebrado... nem mesmo pelo mais poderoso deus. Sabemos que não há como criar matéria a partir do vazio e, a famosa lei da troca equivalente ainda continua valendo neste caso.
O que o Arcannum, como denomino o tal idioma, faz é utilizar a energia vindoura do próprio arcanista como substrato para esta troca. Seja por esforço próprio ou capacidade inata, você fornece energia em troca de manipular a estrutura do ser, através de seu nome verdadeiro. Essa é a essência da magia que Farallen ensinou-me. E por isso que dou a devida importância aos nomes...
Quando atingi a maturidade, e já dominava o Arcannum, me despedi de meu mentor e segui de volta para Galenbar. Ficara sabendo que, neste meio tempo, meu irmão, Varnilael, havia se tornado Lorde e já era hora de lhe fazer uma visitinha.
Me despedi como Mithae e fui recebido como o andarilho errante ou, em nossa língua, Nihallinael.
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