sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Poder do Pensamento

Tudo estava pronto. O cenário já estava a posto, os atores se preparavam e as cortinas logo abririam-se. O espetáculo estava prestes a começar.


Os deuses se distanciaram, deleitando-se de orgulho e satisfação. Observaram a obra-prima pelo tempo suficiente de um suspiro. Não podiam esperar mais. A ansiedade, resquício mortal, tomava conta dos presentes, agitados por assistir a obra tomar seu próprio rumo. Todos consentiram e, com um estalar de dedos, Omnitheron fez com que a entropia caminhasse no sentido esperado.

A partir disso, a própria Criação, como havia feito com a escuridão após o nascimento das estrelas, tratou de ordenar o que restava. De sonhos, estabeleceu o Éter, o reino planar das idéias e pensamentos que une todas as criaturas. Do comportamento caótico dos átomos, oficializou a gravidade, o empuxo e todas as outras leis naturais. Da energia vital de todos os seres vivos, formou-se o plano elemental do Fogo. Das profundezas do planeta, o plano do elemento Terra, da fluidez e mutabilidade de Quen’are, deu forma ao plano da Água. Do bater de asas dos dragões, o reino do Ar, da energia emanada por todas as estrelas, o plano da Luz e de uma frase de Nerul que ainda pairava na imensidão, a morada das Sombras.

Porém ainda havia uma peça faltando em tudo aquilo. O fio fundamental que interligaria a Existência como um todo. A capacidade de manipular a Criação. A centelha de poder divino capaz de torcer e moldar tudo ante a vontade.

Magia.

Não havia, entretanto, nenhum deus com tamanho poder capaz de fornecer a dádiva da magia à Criação inteira. Portanto, depararam-se com o paradoxo. Não é possível o surgimento da arte arcana sem um ser que assumisse como Patrono da Magia. Todavia, era inconcebível a idéia de um Deus da Magia sem a existência da mesma no plano.

A idéia da necessidade de um Patrono permaneceu no Éter por um longo tempo. O suficiente para que, como um recém-nascido, engatinhasse até adquirir firmeza nas pernas. Andou, até aprender a correr. Correu até conseguir saltar. E voou quando saltar já não era o bastante. Adquiriu asas e fugiu do plano etéreo, forçando sua passagem para o plano material. Ao fazê-lo, formou o Primeiro Portão, a barreira que separa a realidade dos sonhos... Eä do Éter.

A idéia, já portadora de um poder digno de uma divindade, rumou para onde os outros Deuses estavam. Curiosos, todos analisavam-na, enquanto uma frase permeava as gargantas presentes... “O que é você?”

“Sou cria do pensamento, dos sonhos e da imaginação. Sou Aquele-que-a-tudo-pode, sou aquela que molda o mundo sob a minha vontade. Sou a pedra angular, o fio essencial, aquilo que falta para completar a vossa obra”, a voz era projetada na mente dos outros deuses. Era serena como a mais calma das manhãs de primavera, mas cheia de fúria como as nevascas de inverno.

“Eu sou a magia e a ela eu pertenço. Sou a Divindade da Magia e ponho-me à vontade da Criação e de seus habitantes”. A entidade, antes uma pequena esfera desfocada e tremulante, tomou a forma de um humanóide. Emanava idéias e pensamentos em forma de luz azulada. A figura deu as costas aos outros Deuses, encarando o Plano de Eä. Postou um dos joelhos no chão e abaixou a cabeça, em respeito à Criação que dera vida a ela. Segundos depois, se despedindo dos outros deuses, desvaneceu-se com uma leve brisa que passava.

Com a mesma rapidez que sumira, passeou por todos os cantos da Criação. Das leis naturais, dobrou-as criando suas opostas. Dos reinos elementais, moldou os Portões que restavam. E, de sua própria energia, explodiu em chamas que cairam por toda a Criação.

Todos os seres vivos sentiram algo completar-lhes o peito. Sentiram a centelha arder em seus corações e, por um momento, acharam-se capazes de proezas inimagináveis. Apenas um nome permeou a mente de todos. Um nome de impossível pronúncia ou escrita, que as mentes traduziram da melhor forma possível em dois ideogramas e um som.

“જાદુ”

Com o som, descobriram o modo de chamá-lo. Ishgar.

Com os ideogramas, vieram pensamentos e destes sensações. Ao mentalizarem “જા” os habitantes de Eä sentiram Poder, em sua forma mais essencial e não lapidada, como um diamante bruto em meio ao carvão. “દુ” era um pensamento que dizia a respeito de si mesmo, o complexo conceito do Pensar. Pela simples associação, os seres de Eä conheciam o poder do pensamento... a magia.


As peças estavam completas, o quebra-cabeça montado, o menestrel do Tempo já iniciara a música e o espetáculo podia finalmente começar...

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