“Droga” Tudo começara de novo, a espiral de morte nunca acabaria. Saban, já um velho samurai, capitão daquele pequeno posto de comando já estava cansado.
-- AOS PORTÕES!!! PROTEJAM O CAMINHO!! PELO IMPERADOR!! – até o grito de guerra parecia usado, gasto, sem sentido.
O Grande Norte já fora mais calmo, talvez a uma centena de anos, ou mais, Saban só sabe que aos 45, e defendendo o mesmo lugar desde os 20 a coisa toda parecia ser estranha demais.
-- ORGHH!!! PEGUEM ELES!! – Não que algum samurai realmente entendesse o grito de guerra do orc que avançava sobre eles, mas souberam extrair a idéia. Melhor se prepararem.
-- NÃO SE DEIXEM LONGE DEMAIS DO SEU PARCEIRO!!—o sistema de parcerismo realmente salvara muitas vidas, um atacava e o outro defendia, num sincronismo quase perfeito. Esse era o jeito da luta, da confusão diária. Muitos lutavam com cortes ainda abertos de outros dias. Até os clérigos contratados não davam conta de curar todos. E os pergaminhos pararam de chegar fazia alguns anos. O Reino estava pobre, mas ninguém queria admitir.
Velho demais para o trabalho, mas jovem demais para morrer, era o jeito que Saban se enxergava no meio do sangue e das lutas diárias. Os Orcs nunca deixaram de vir, assim como ele nunca perdera uma luta.
As Katanas quase sem fio já cortaram algumas dezenas de pescoços e braços. O dia chegava ao fim, mas não a luta.
É difícil dizer a última vez que tinha visto uma mulher, que não estivesse de armadura, ou da última vez que descansara. Mas o próprio imperador o pedira para ele ficar no cargo. E este era um pedido que não podia negar.
Algumas cenas de sua vida sempre passavam em sua cabeça enquanto lutava. A primeira cabeça de orc arrancada, o primeiro amigo morto, o último amor perdido para o trabalho, tudo lhe passava pela cabeça enquanto lutava. Mas aquele dia algo estava estranho.
Os orcs não recuaram com o fim do sol, a luta se prolongava, os homens cansados procuraram se manter próximos, e juntos gritavam ao atacar e ao se defender, uma inspiração à guerra.
-- VAMOS MATAR TODOS!! VAMOS HOMENS!!—o já velho samurai não tinha nenhum parceiro, ele não precisava, não mais, apesar de todas as mortes e de todo o sangue a sua roupa branca continuava intacta, ele realmente não era qualquer um.
Por fim Saban descobre o que está acontecendo. Não são os orcs que comandam a carga contra a pequena fortificação. Um minotauro de quase dois metros de altura se coloca ao lado do exército inimigo. Entendam que um minotauro nunca andaria com um exercito, nunca comandaria outros, ou estaria vestido de forma tão humana.
-- VENHA A MIM VELHO!! – O monstro grita com sua voz profunda, poucos sobreviviam depois de ouvir a voz de um minotauro e muitos tremem de medo perante a ela, o campo de batalha se silencia, todos os orcs pararam de atacar e ficaram postos atrás do minotauro. – EU, JAX, O FORTE, VOU LHE MOSTRAR O QUE É UMA LUTA DE VERDADE!!
Alguns samurais quase voaram para cima do monstro petulante, todos tinham orgulho de seu líder, o mais forte general do exercito, que vivia na fronteira só para proteger o país, muitos estavam ali por pura admiração.
-- Parem! Mantenham a posição!—Imediatamente todos voltam para posições defensivas se acalmando, ali uma palavra era lei. – Meu caro minotauro, em todos os anos que estive nesse campo de batalha nunca vi algo como um general entre monstros, mas você me parece como um. Mas, infelizmente, acho que sou eu que devo lhe ensinar algo sobre lutas.
O homem se coloca um pouco a frente de seus subordinados. E levanta o braço, logo em seguida o abaixando na direção dos adversários. A chuva de flechas veio imediatamente da fortificação, muitos orcs caíram.
-- Aqui não existe algo como lutas pessoais MONSTRO! EU DEFENDO O MEU REINO E O MEU POVO! VOCÊ É SÓ MAIS UM A SER MORTO E JOGADO FORA!! – Aparentemente Saban perdera a compostura e sai correndo pelo campo enquanto uma segunda chuva de flechas chega aos inimigos que caem ao serem varados por elas.
Jax se defende do ataque, preciso e experiente, que lhe mirava o pescoço. Girando seu machado tenta usar o peso de seu tamanho em vantagem, mas rapidamente o samurai se desloca para a sua lateral aplicando um golpe para derrubá-lo.
Por pouco o minotauro não desmorona sobre o chão, se desvencilhando do golpe e parando de costas para o exercito inimigo.
-- Vejo que não é tão ruim para um animal.—O sorriso sarcástico brilha nos lábios e olhos do velho.
Jax se sentia incomodado, mas ignorava a sensação de ser observado pelas costas e continua a lutar. Ambos trocam golpes e esquivam de vários movimentos, mas com o tempo a força do minotauro sobrepujou o homem, a cada golpe ele dobrava, se encurvava e se retorcia sem querer ir na direção que o adversário o guiava, o chão. Mas no fim das contas um joelho foi usado para ajudar a aparar um golpe e depois não saiu mais do chão, logo depois o orgulhoso General estava indefeso perante ao monstro.
--É o seu fim humano fraco e velho! MORRA PELO MEU MACHADO! – o machado baixa sobre Saban que mal tem forças para levantar sua espada.
“Tsc tsc, não tão cedo. Ainda temos que brincar.”
Saban nota que todos a sua volta estão parados, ninguém se move, só um estranho homem que sai do meio dos samurais.
“Crianças. Vamos com mais calma. A diversão está apenas começando. Os atores principais deveriam ficar por ultimo.”
O homem alto, esguio pára na frente do samurai caído.
“Saban, por favor, se levante. Temos que conversar.”
-- Conversar? Sobre o que? – a sua voz sai meio engasgada.
Um grande sorriso abre no rosto do alto e esbelto homem.
“Claro. “O que?” sempre é a pergunta.” – Ele próprio se interrompe com uma grande gargalhada-- “Eu só vim lhe oferecer uma chance de vitória. Algo que parecia estar perdido.”—apesar do auto controle um leve sorriso sai pelos lábios.
-- Vitória?—as mãos de Saban tremiam, as suas pernas mal o deixaram levantar, todo o seu corpo tremia. Ele só não sabia se era de medo ou excitação.—Claro! Aceito qualquer coisa para ganhar!
“Ótimas palavras. Está feita a troca, agora continuem.”
O mundo descongelou, o primeiro som foi o do machado do minotauro atingindo o chão, a força era tamanha que até perdera o fio e lascara em alguns lugares. O samurai estava de pé, de frente para o monstro. Em milésimos de segundo, o atacante se toca a ausência de seu adversário que deveria estar agonizante sobre seu machado e olha para cima.
Jax agora adquire uma expressão inesperada para um minotauro. Atônito, olhava para o samurai. Os cabelos a pouco branco mudavam de cor, as pontas ficaram pretas e a cor subia pelo comprido rabo de cavalo que o prendia. Ao mesmo tempo as rugas e as sobres de peles encolhiam, a cor da pele ficava mais vivida. A juventude voltava para o corpo de Saban.
Até mesmo as roupas, já gastas, a espada já sem fio ou o brilho de uma lamina recém feita, mudam voltando aos seus tempos áureos. Porem, apenas isso não importaria muito, se o samurai não estivesse agora, novamente, com seus 20 anos, na flor da juventude, com toda a força que um dia perdera.
O grande minotauro se vê na frente do inimigo, assustado pela mudança. Acaba bufando entre os dentes.
-- O que você fez? Deve ser uma magia. – Jax se sente encurralado, não sabia as extensões dos poderes do samurai, antes fraco agora era forte e a dúvida rondava seu coração.
-- NADA! – Um sorriso cobre a expressão de Saban.—Você está a delirar! Agora LUTE!
A espada do samurai agora é quase invisível, seu movimento matador, sem piedade e sem medo. Se chocando contra o machado, que só por acaso se encontrava no lugar certo, resulta na destruição do mesmo, fora cortado ao meio, e a espada ainda fizera um profundo corte no peitoral de Jax. Agora sem duvidas o minotauro toma uma difícil decisão.
--RECUAR!! – A voz forte ressoa no meio da batalha e logo todos os orcs estão correndo de volta pela floresta que saíram. Jax trava os dentes enquanto amaldiçoa o samurai e seus estranhos poderes.
Saban não notara ainda a sua própria transformação, porem o seu “amigo” já havia se retirado. O samurai não compreendera. Mas, para o estranho homem da troca, "o jogo não era ganhar, mas sim fazer alguém perder. E nunca antes alguém havia perdido tanto!". Quem saiba um dia ele se toque.