quarta-feira, 2 de maio de 2012

Encantamentos e Guerra


Uma estranha luz azulada havia tomado a sala, o pequeno grupo de magos estava sentado no chão, a poucos metro da mesa. Um pequeno zunido saia de seus lábios enquanto entoavam o encantamento, que logo se tornaria permanente. Mizuki olhava impressionada enquanto as pedras azuis, que Saban havia depositado na mesa poucos minutos antes, voavam por entre todos brilhando. 

 

Os homens que estavam acostumados com as artes de guerra de Kamigawa ficaram imóveis perante à beleza e ao mistério da magia, já haviam visto-na centenas de vezes. A imperatriz olhava enquanto a dança das pedras tomava velocidade, assim como o zunido do encantamento tomava-lhe os ouvidos, cada vez mais forte e mais rápido. Em algum momento, ela achou que havia ficado surda e ficaria cega com as linhas azuis que se desenhavam a sua frente, mal podia ver os outros presentes na sala. 

A velocidade dos objetos se tornou tal que, por um momento, Mizuki só viu azul e, no instante seguinte, o zunido e as pedras pararam. Seu corpo fraquejou, dando um desajeitado passo para frente como se quisesse parar a queda de sua cabeça, ou achar novamente o chão. Uma ânsia tomou o estômago que, embrulhado, começou a expelir o almoço; o gosto quente e ruim de vômito tomou-lhe a boca. Em reflexo ela levantou a cabeça rapidamente engolindo-o. 

-- A primeira vez é realmente desconcertante --- Saban segurou-lhe pelo braço. – Melhor sentar-se – o corpo fraquejou novamente e o sensei teve que segurar todo o seu peso para que a Imperatriz não encontrasse o chão. – Opa – um sorriso doce tomava-lhe os lábios. – Deixe-me ajudar-lhe. 
Os momentos seguintes foram estranhos para Mizuki, o seu corpo fraquejou ainda mais, ela suava e ofegava, seu coração bateu incontrolável. Ela sentiu uma forte agonia, medo, vergonha, todos os sentimentos em um só. Tudo isso nos meros milésimos de segundos que Saban a retirou do chão e a levou para o quarto ao lado, sendo carregada como um criança que brincara até tarde demais e perdera a consciência de tão cansada. 

O cheiro de suor tomou-lhe as narinas, junto com o cheiro característico de ervas que emanava de Saban. 

-- Não preci... – a tontura ficou ainda mais forte. Era realmente uma tontura? As palavras lhe fugiram e seu rosto queimou numa dor leve e agradável. Sua voz sumiu e não voltou até Sakura entrar e lhe colocar uma pano quente e úmido por sobre a boca e o nariz. 

-- Minha senhora, deveria tomar mais cuidado – um sorriso sereno também estava nos lábios de sua amiga. – Vai morrer desse jeito – uma leve gargalhada denunciou a provocação. Saban já havia deixado o cômodo e voltara para a reunião estratégica. 

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-- Senhores, agora que o encantamento está completo precisamos de voluntários para levar alguns dos magos para uma volta – parado atrás da mesa Saban voltou seu olhar para baixo observando o mapa, que estava pigmentado com miniaturas azuis que andavam. O pedestal que fora colocado pouco tempo antes estava brilhando, na mesma cor que os pequenos zumbis, girando, em torno de um eixo que mudava a cada poucos segundos, e levitando por sobre a mesa. 

-- Qual é a precisão disso? – Eijiro olhava abismado para as pedras. Tentando avaliar quantos inimigos estavam na área portuária. 

-- Depende – Saban estava pensando sobre as mesmas coisas. – Tem algo de errado, não sobrou nenhuma pedra. 

 

-- Como assim? – Sakura perguntou. 

-- Normalmente cada pedra representa um número fixo de inimigos – ele levemente coçou o inicio da barba que estava se formando. – Tinham mais de 500 pedras no saco, e eu pedi para os magos fazerem uma estimativa de 1 pedra para cada mil inimigos. 

A sala inteira ficou em silêncio. Todos entenderam naquele momento que estavam vendo um exército gigantesco de mortos-vivos, e uma coisa chamou-lhes a atenção, muitas pedras estavam na baía. 

-- Acho que zumbis não nadam – Eijiro comentou. 

-- Eu tenho certeza que não – um clérigo adentrou no recinto. – Boa noite senhores –uma grande mesura para Saban e Eijiro. – Mas eles podem afundar, e andar. Como não precisam de ar, podem sobreviver muito tempo em pântanos e dentro do mar. 

 

-- Uhmm... – Saban olhava para um grupo específico de pedras, que parecia estar se movimentando de forma estranha. Elas iam e voltavam no meio da água, fazendo um caminho que ia de um lado ao outro da baía. – O senhor já viu tamanho grupo de mortos-vivos? 

-- Não. Eles só se agrupam em torno de Clérigos e entidades malignas, nunca vi um número tão grande antes – Saban se limitara a coçar a rala barba e pensar. 

Ninguém jamais pensara na possibilidade da cidade imperial ser tomada, da “muralha do norte” cair, imagine algo como “destruição total do reino”. Os samurais que faziam a guarda da sala rapidamente relaram os dedos no símbolo em seu peito, pedindo a kami que os protegessem, Eijiro apertou firme o cabo de Uaki, Sakura verificou sua sombrinha e Saban coçou mais uma vez a barba. Estavam vendo algo que nunca havia sido visto, e ninguém sabia o que dizer. 

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Um grupo de samurais guiava um mago pelas ruas semi-desertas. O mago carregava um grande embrulho, que consistia em um grande objeto envolto por muitas peles. 

 

-- Me ajudem a subir naquele telhado – O senhor já de idade quase se dobrava no peso de seu transmissor mágico. – Mais rápido, temos que melhorar esse sinal logo. 

Após subir no telhado, o mago fez uma magia rápida que criou um pequeno pântano sobre as telhas da casa. Calmamente desembrulhando das peles, colocou a pilastra azul em seu lugar, levemente enterrada no lodaçal. Logo em seguida, sua mão brilhou vermelho junto com as palavras raivosas e fortes que saiam de seus lábios. 

-- Venha a mim, fogo que a tudo destrói. Eu o invoco, seja o meu servo e meu guia – terminadas as palavras encostou a mão no lodo, que imediatamente endureceu. 

-- Está feito? – o samurai que comandava o grupo estava nervoso. Um grupo de zumbis se aproximava, não ia ser fácil lutar com tantos sem ajuda, o seu pequeno grupo de reconhecimento não teria chance alguma. – Vamos Belsiah. 

-- Claro. Só mais uma coisa – encostou na pedra dizendo um encantamento. – Me mostre aquilo que esta longe, me proteja da escuridão e confunda os meus inimigos. 

A pedra começou a brilhar azul, alguns momentos mais fortes e outros mais fracos, num pulsar ritmado. 

-- Agora vamos – o velho pulou do telhado. – Espero que os outros não tenham problemas. O grupo correu de volta para as áreas seguras dos portos. 

A mesma cena e as mesmas palavras foram entoadas em muitos outros lugares da região portuária. 

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-- Está feito, Saban – Belsiah fazia o seu relatório ao general. – Poucos grupos tiveram dificuldades e não perdemos nenhum transmissor. 

-- Ótimo – o olhar sério não deixara os seu cenho. – Precisamos de mais pedras. 

-- Como? – o velho mago, responsável pela magia ficou espantado. – Desculpe-me, mais? Como assim? 

-- Olhe por você mesmo. Não temos identificadores o suficiente. 

-- Incrível – o velho foi tomado pelo espanto a ver as estranhas movimentações das miniaturas. – Realmente se movem no padrão que indica falta de identificadores – a curiosidade tomou o seu rosto. – Temos uma pedra diferente senhor. 

-- Aonde? – Saban se reclina sobre a mesa. 

-- Ali – O dedo velho, enrugado e meio torto mostra o caminho para o olhar do General. 


>>>>>> Wagner "Tolshimir" Surkamp

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